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16.8.04

Frase do dia 

"Brindemos a todos nós: os oprimidos e fodidos".
Ivan, personagem de Nelson Dantas, no filme "Bar Esperança".

9.8.04

Makes No Sense At All 

Devia ser cerca de cinco e dez da tarde quando o sol estava bem na brecha entre o prédio da Ministro Octávio Kelly, onde há dois anos era um casarão de três andares, e o da Ari Parreiras, erguido, há pouco mais de um ano, no lugar de três casas idênticas que tinham varandas escoradas por colunas de pedra. Naquela brecha, a intensidade amarela do sol em seu movimento poente era algo realmente bonito. No rádio ao meu lado, a terceira música do lado A da fita do Husker Dü, "Makes No Sense At All", embalava o momento exato em que todos os problemas ficaram de lado, completamente desprezados. Tal estado de espírito havia começado uma hora antes, quando saltei do ônibus em Icaraí. O céu azul e a temperatura abaixo de 20 graus me fizeram lembra quão bonita e tranqüila é uma tarde à beira da Guanabara. E saborosa, se adicionarmos o inconfundível X Filé do Ponto Jovem, bem ali, na curva.

Do terraço de casa, a visão para o Jardim Icaraí, nome besta para o bairro que, quando criança, conheci como Santa Rosa, é privilegiada. Bem à minha direita, o Vital Brazil, tendo ao fundo o Morro do Africano e na parte de baixo o instituto dos soros antiofídicos. Indo em direção à esquerda, passamos a vista pelo enorme prédio recém-construído, atrás do qual se esconde a estátua de Nossa Senhora Auxiliadora, e o telhado de zinco do parque aquático do Salesiano, onde passei inesquecíveis momentos durante dez anos. Quase chegando ao centro, dá para avistar o prédio de dois blocos onde mora Vladimir Pucu, figura lendária por essas bandas. O condomínio era chamado de "Verde e Amarelo" por causa das cores de suas pastilhas, hoje, azuis, cinzas e brancas. Bem de frente para mim, o maior prédio da vizinhança, na antiga Rua Barros, de 24 andares e dois blocos, que pode ser visto de todos os cantos do bairro, vai desaparecendo dia após dia por causa de um novo paredão que se ergue na rua da Dona Henriqueta. Pulando os supracitados edifícios que espremem o sol poente, chegamos na altura da Praia de Icaraí. Olhando em direção às antenas do Sumaré, dá pra ver, um pouco mais abaixo, o prédio do Willy, onde se guarda uma das maiores coleções de CDs e baixarias de Niterói. Chegando bem perto do Morro do Cavalão, vê-se os vergonhosos prédios inacabados no alto da Favela da Cotia, três arranha-céus invadidos e que sempre me dão a impressão de que vão desabar. Bem à esquerda, os moleques do morro soltando pipa numa rua bem no todo, que ainda não foi tomada totalmente pela favela e pelos tiroteio, mas que em breve será. Abaixo deles, as belas casas da Miguelote Viana, que se desvalorizam a cada segundo que passa, assim como a minha.

O céu azul vai tomando uma cor cada vez mais próxima de um roxo improvável e as nuvens concentram aquela irresistível tonalidade alaranjada. O sol some aos poucos atrás dos prédios que mudaram a paisagem do bairro da minha infância. Logo serei eu a me mudar daqui também. Cinco e quarenta e cinco da tarde, luzes acesas em muitos apartamentos, a última música do lado A da fita do Husker Dü acaba. Desligo o rádio e volto a me preocupar com a vida.

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