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20.7.04

É só rock'n roll, mas eu gosto 

Adel começou a gostar de rock'n roll aos 14 anos, em Belo Horizonte, em 1957. Hoje tem uma coleção de mais de 11 mil discos, entre LPs e CDs, a grande maioria da fase inicial do gênero, aquela de Elvis "The Pelvis", Chuck Berry e Fats Domino. Antônio não tem uma coleção tão farta, mas ainda hoje, aos 49 anos, guarda os vinis de Creedance Clearwater Revival, Led Zeppelin, Jimmy Hendrix e Frank Zappa, entre outros, como resquício do que sobrou de sua adolescência tijucana. Alonso, bem mais jovem, tem o Rush como banda predileta, mas gosta mesmo é do heavy metal escandinavo, de bandas impensáveis como Dimmu Borgir, da Noruega, e Enslavers, da Suécia. Já o peso que tanto bem faz aos ouvidos de Renato vem do Hard Rock setentista e da cadência do Blues. Tanto que ele acabou abrindo uma loja de discos só para passar o dia ouvindo música.

São quatro figuras bem comuns que nada têm a ver entre si, a não ser o fato de gostarem, bastante, de rock'n roll. Pelo mesmo motivo, e por falta de pauta melhor, acabei propondo a idéia de fazer alguma matéria sobre os tais 50 anos do rock com pessoas comuns, que curtem o som, que colecionam, que têm banda ou que simplesmente sintam algum prazer ao escutar uma bateria bem tocada ou uma guitarra distorcida. Como eu. E, ontem, durante a minha ronda jornalística semanal, às vezes esquecia que estava no papel de repórter e passava a bater papo sobre música com as figuras, elogiando o álbum de estréia da banda tal, ou me admirando da loja estar vendendo um disco raríssimo do Dead Kennedys, ou achando graça das influências élficas dos metaleiros do Grajaú. O prazer simples de escutar uma música básica ou de discutir qual o melhor disco de uma época são o que há de melhor no rock. Nada de compromissos, academicismos ou pose de mau. Só a música e o ouvinte bastam. E as quatro figuras citadas acima tinham isso. Do coroa que se amarra no "Be-Bop-Lula" ao jovem biólogo que enlouquece a mãe com acordes grotescos, nenhum deles se enquadrava naquele estilo preconceituoso e simplório que se convencionou chamar de "roqueiro". Nada de jaqueta de couro com topete ou cabelo verde com maquiagem na cara. Só o som na caixa.

É isso que deveria ser lembrado quando e comemora os 50 anos de rock. Não é só o rebolado do Elvis, o sangue artificial de Gene Simons, a guitarra quebrada de Pete Townshend ou os urros agoniados de Kurt Cobain. O rock é tudo isso, mas, principalmente, é também aquele cara comum, que mesmo longe da adolescência, ainda sente um arrepio ao lembrar da música que mexeu com ele aos 15 anos.

17.7.04

O Jornal do Estado do Rio de Janeiro 

Ontem, depois de algumas muitas horas de trabalho, desci ao Galeto, no Baixo Santanna, para me desintoxicar. Na conversa com dois colegas de trabalho que cobrem a sórdida cena política niteroiense, o papo logo derivou para o brioso diário O Fluminense. Um dos meus companheiros de papo também era egresso dessa tradicional escola de jornalismo, situada no baixo meretrício de Niterói.

O papo durou pouco, mas representou grande parte do total discutido. O jornal da família Torres ficou ainda esquecido durante a segunda rodada, ainda no point, no churrasco de gato do Felipe. Mas, na volta para casa, de carona com o tal ex-colega de O Flu, voltamos ao assunto, que consumiu quase toda a viagem.

Esse preâmbulo é só para mostrar que, mesmo num lugar melhor, a gente não abandona assim tão facilmente as raízes. O pior é quando essas raízes vêm lá d'O Fluminense. Que o jornal é uma merda, que o ambiente é péssimo, que as condições de trabalho não ajudam e que o salário é humilhante, todos já sabem, e os que não podem imaginar. Mas mesmo assim ainda me dá certo orgulho de olhar pra trás e ver que passei seis meses naquilo e hoje (sabe-se lá até quando) estou num lugar mais decente.

Uma outra coisa engraçada é a quantidade de gente que já passou pelo FLU. Só no Reino Encantado da Irineu Marinho devem haver dezenas, espalhadas pelas redações. E a relação que esses jornalistas, em sua maioria niteroienses e/ou ex-alunos da Uff, têm com O FLU é parecida com a que os mais antigos têm com o JB: sempre se tem vários defeitos para apontar, mas com certa dose de nostalgia. É assim que me sinto hoje. Não fiz lá muitos amigos nem deixei marcas nos que ficaram, mas os seis meses em que lá estive formam a base da minha ainda micro-carreira jornalística. Não espero ter que voltar ao FLU, apesar de não descartar nenhuma possibilidade em caso de desepero. Mas ainda guardo com carinho aquelas primeiras matérias réco sobre odiosos corredores de cart e praticantes de pesca submarina.


7.7.04

Se é pra reclamar... 

Pegando o embalo de reclamações, aproveito para dizer: que saco essa mania de criar "novas estações"! Quando eu dava graças a Deus por ter acabado esse tal de "veranico", me vêm com esse "outonico". O pior que todo ano é a mesma bosta. Se faz um pouco de calor em julho, neguinho faz um estardalhaço dos diabos. Se chove e a temperatura cai no verão, outra tragédia grega. São manias cariocas que eu não suporto.

6.7.04

A pior banda da História 

Num final de semana do longínquo ano de 1997, o Offspring se apresentou pela primeira vez no Brasil. Como fã ardoroso de hardcore, eu, no começo do fim da minha adolescência, me despenquei de Niterói para o então Metropolitan, na Barra, onde a banda californiana tocou. Apesar de ter toda a minha ansiedade focalizada para a atração principal, não posso negar que tinha uma certa curiosidade em relação à banda que abriria a noite: Charlie Brown Jr, da qual, além do nome ridículo, só conhecia uma música.

O Offspring não decepcionou, tocou bem e rápido, como era de se esperar. Mas a grande surpresa, na minha opinião, foi a apresentação da banda santista. Tudo bem, os cara não passavam de uma imitação grosseira do Red Hot Chilli Peppers, com umas música bem bobas, mas o set foi muito bom. O segredo estava na vontade na postura de palco, as únicas coisas indispensáveis para um bom show de rock. Depois de tudo, eu e meu confrade Willy fomos tomar uma Coca-Cola (nós éramos di menor). Enquanto estávamos no balcão, uma figura de sotaque insuportável veio puxar papo:

- Ô meu, num tem cerveja nessa bosssta, não?

Era o vocalista do CBJ, cujo apelido, como fiquei sabendo mais tarde, era chorão.

- Sei lá. Acho que não. Só refrigerante - respondi.

- Putz, que merda, hein? - respondeu o roqueiro cheio de atitude.

O papo seguiu sobre o show. Depois de elogiarmos a apresentação, o vocalista, cheio de emoção (talvez daí o apelido) disse:

- Meu, foi muuuito foda tocar aqui, tá ligado? Nóis nunca tocô no Rio, a galera daqui é animal.

Depois da despedida, cheguei a comentar com Willy:

- Simpático o cara, não?

É bom esclarecer que a minha consideração pelo Charlie Brown Jr e por Chorão é um caso de queda ininterrupta. Dias depois daquela conversa, em 97, comprei nas Lojas Americanas, por R$10,50, o CD da banda. Logo que ouvi, percebi o quanto os caras eram fracos. A poeira do disquinho está lá para provar o meu desânimo.

Lembrei da história outro dia, quando Chorão deu uma cabeçada em Marcelo Camelo, de Os Irmãos. Justamente por causa da Coca-Cola, que o vocalista-skatista achava (ou ainda acha?) uma merda. Nesses sete anos, a cada disco, a cada declaração e a cada fato envolvendo os santistas, vejo no que aquela banda, cheia de energia e disposição, se transformou: numa caricatura da atitude que apregoam. Aquela imagem que eles arrota por aí, do cara que tá cagando pro que os outros pensam porque é suficientemente fodão, vai pro ralo quando um mimado dá uma cabeçada em alguém porque não agüenta receber críticas. É muito ridículo ver o cara interpretar o punk "tô nem aí" no palco e depois ficar cheio de não me toques.

O Charlie Brown Jr (cara, que nome escroto!) é a prova do estado terminal em que se encontra os adolescentes do Brasil. A banda é a principal do cenário "rock", ao lado de aberrações como Detonautas, CPM22 e os inacreditáveis LSJack, Skank e Jota Quest (meu Deus!!!). Salvo raríssimos casos de criatividade (O Rappa e Los Hermanos), o primeiro time do BRock é fundamentalmente redundante, previsível e cretino. Tudo o que o CBJ é, com o agravante de ter o vocalista mais irritante da História. Outro sintoma de morte cerebral é a qualidade das letras. Uma das últimas pérolas, "Eu não uso sapatos" acho, da bandinha ilustra bem o que quero dizer. "Eu não sei fazer poesia, mas que se foda!", grita Chorão no refrão da música. Ou seja, ele manda os outro se foderem porque ele não sabe fazer poesia? Quem entende a relação com não usar sapatos? Eu também não uso, e isso não é o meu maior motivo de orgulho.

Por tudo isso e mais um pouco (o texto já está muito mais longo do que deveria), reafirmo: não faria mal nenhum se, na hora da cabeçada, Chorão fraturasse a boca e nunca mais "cantasse". Charlie Brown Jr é, com toda certeza, a pior banda que o rock um dia poderia pensar em ter.

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